quinta-feira, 16 de abril de 2009

A sós

Desde que comprei um celular, há dez anos, as esperas no ponto de ônibus, o cafezinho solitário no meio da tarde, as andanças na rua ou o contemplar de uma paisagem passaram a ser momentos menos meus. Nunca estou sozinha: a possibilidade de compartilhar o instante com quem não esta ali me acompanha.  

Na era das comunicações instantâneas, há sempre um telefone tocando, uma mensagem chegando, uma janela piscando no computador. Nesses tempos, solidão e silêncio são quase defeitos: Se não estou falando com alguém, parece que há algo errado comigo. Foi em madrugadas insones que consegui dispensar todas as companhias para me encontrar com a mais ausente: eu mesma. A sós pude me fazer perguntas difíceis e responde-las em voz alta. Ensaiar conversas que gostaria de ter. Ou apenas ficar quieta e à toa – sem me sentir esquisita por isso. E descobri que a solidão é o espaço mais verdadeiro e tranqüilo que podemos explorar: longe dos olhos dos outros, somos quem somos, e não quem deveríamos ser.

Agora exercito a solidão diurna. Ir ao cinema sozinha, tomar um café com celular desligado e caminhar sem companhia têm me ensinado a separar o que é estar com alguém por vontade e o que é se manter conectada por simples ansiedade. E minha companhia tem ficado cada vez melhor.