domingo, 18 de janeiro de 2009

O QUE QUER UMA MULHER

Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança, então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre. A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações. Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de Walt Disney.

Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas, nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing, engenheiros mecanicos. Ou mecanicos de oficina mesmo, a situação não anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós, cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar. Mas, lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será preenchida.

Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas. Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de embarcar.

O amor da vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo" virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre casais, é mais fácil ouvir "te amo" ao encerrar uma ligação telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou preparar o jantar pra você às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone, possessos. 

Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas. Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa. 

Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente amada o suficiente.

**Martha Medeiros**

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vícios prazerosos

Muita gente, nessa época, decide que vai parar de fumar. É uma das resoluções mais clássicas de final de ano, e das menos cumpridas.

Eu nunca fumei (a não ser umas tragadinhas bobas quando era guria, e que me enjoavam à beça). Mas, curiosamente, sempre fui cercada por fumantes. Nunca fiz campanha contra, nunca fui de reprimir, mantenho os cinzeiros na sala porque entendo perfeitamente que, por mais nocivo que seja, é um hábito prazeroso e parar não é nada fácil.

Mas dou força quando conseguem. Essa semana conversei com uma amiga que fuma desde os 14 anos de idade. Agora, depois de 30 anos fumando, resolveu parar. Está há um mês sem colocar um único cigarro na boca. Está tomando um medicamento que, segundo ela, ajuda bastante. Engordou uma coisinha de nada, mas em compensação está com o rosto mais viçoso. E me pareceu tranqüila.

Então não é tão difícil?" perguntei. "É quase a morte", ela respondeu, dramatizando com humor. Comentei com ela que se eu me propusesse a nunca mais tomar um cálice de vinho, provavelmente eu sofreria bastante também. "Cigarro é pior", ela respondeu. "Tu, por exemplo, só bebe à noite, e respeita teu limite, o teu corpo avisa quando não pode mais receber álcool. Já o cigarro é meu apoio, meu companheiro o dia inteiro, em todas as horas, e quanto mais eu fumo, mais eu quero". Então se compara a o quê?

"Imagina perder um amor".

Foi na veia. A comparação é perfeita. Uma relação de amor, por mais prazerosa que seja, pode fazer mal à saúde. São as típicas relações "ruim com ele, pior sem ele" - ou ela. Como é que de uma hora para a outra a gente interrompe tudo, fica sem ver a quem ama, sem poder chegar nem perto? Como é que a racionalização ("essa história não anda saudável") pode vencer a vontade? ("que saudades!!!"). A abstinência é enlouquecedora. Pior é que se a gente der uma rápida "tragadinha", já era. Volta tudo. Tem que se manter longe. É ou não é uma espécie de morte? Posso imaginar o que minha amiga está passando sem o cigarro dela.

Desejo a todos que estão planejando parar de fumar que consigam. Mas desejo mais ainda que quem está pensando em começar a fumar, que não caia na asneira. Não tem cabimento iniciar um hábito viciante e extremamente prejudicial à saúde. Para quem não está largando o cigarro, e sim um amor, paciência e confiança.

***Martha Medeiros***