quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vícios prazerosos

Muita gente, nessa época, decide que vai parar de fumar. É uma das resoluções mais clássicas de final de ano, e das menos cumpridas.

Eu nunca fumei (a não ser umas tragadinhas bobas quando era guria, e que me enjoavam à beça). Mas, curiosamente, sempre fui cercada por fumantes. Nunca fiz campanha contra, nunca fui de reprimir, mantenho os cinzeiros na sala porque entendo perfeitamente que, por mais nocivo que seja, é um hábito prazeroso e parar não é nada fácil.

Mas dou força quando conseguem. Essa semana conversei com uma amiga que fuma desde os 14 anos de idade. Agora, depois de 30 anos fumando, resolveu parar. Está há um mês sem colocar um único cigarro na boca. Está tomando um medicamento que, segundo ela, ajuda bastante. Engordou uma coisinha de nada, mas em compensação está com o rosto mais viçoso. E me pareceu tranqüila.

Então não é tão difícil?" perguntei. "É quase a morte", ela respondeu, dramatizando com humor. Comentei com ela que se eu me propusesse a nunca mais tomar um cálice de vinho, provavelmente eu sofreria bastante também. "Cigarro é pior", ela respondeu. "Tu, por exemplo, só bebe à noite, e respeita teu limite, o teu corpo avisa quando não pode mais receber álcool. Já o cigarro é meu apoio, meu companheiro o dia inteiro, em todas as horas, e quanto mais eu fumo, mais eu quero". Então se compara a o quê?

"Imagina perder um amor".

Foi na veia. A comparação é perfeita. Uma relação de amor, por mais prazerosa que seja, pode fazer mal à saúde. São as típicas relações "ruim com ele, pior sem ele" - ou ela. Como é que de uma hora para a outra a gente interrompe tudo, fica sem ver a quem ama, sem poder chegar nem perto? Como é que a racionalização ("essa história não anda saudável") pode vencer a vontade? ("que saudades!!!"). A abstinência é enlouquecedora. Pior é que se a gente der uma rápida "tragadinha", já era. Volta tudo. Tem que se manter longe. É ou não é uma espécie de morte? Posso imaginar o que minha amiga está passando sem o cigarro dela.

Desejo a todos que estão planejando parar de fumar que consigam. Mas desejo mais ainda que quem está pensando em começar a fumar, que não caia na asneira. Não tem cabimento iniciar um hábito viciante e extremamente prejudicial à saúde. Para quem não está largando o cigarro, e sim um amor, paciência e confiança.

***Martha Medeiros***

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