Dominar a técnica de ligar o fodômetro é uma das poucas lições que
deveríamos realmente aprender na vida! Mas não se iluda caro leitor. Ela exige
muita prática e muita disciplina. Não é do dia para a noite que se incorpora a
deliciosa conduta de mandar a PQP o que deu errado. Provavelmente, muitas
tentativas e erros serão necessários antes de uma habilitação quase que
perfeita. Mas não desanime. Se investimos tanto tempo, dinheiro e energia em
coisas completamente supérfluas, por que não se dedicar a algo realmente
libertador?
Não me amou? Que pena. Nem todo mundo tem bom
gosto.
Não gosta de mim? Que coincidência! Também não
gosto de você!
Não respeita as minhas opiniões? Vai se fazer o quê? Unanimidade
é uma utopia.
Não me contrataria para a sua
empresa? Existem muitas
outras bem mais bacanas!
Acha que devo fazer sexo contigo
para conseguir a vaga que quero? Não me ofendo. Você é só mais um babaca
que quer apenas sexo comigo.
Falou mal de mim pelas costas? Acontece. Falamos mesmo. Faz
parte da raça humana falar e falar para depois pensar.
Não tem tempo para tomar um café
comigo? Ok. Talvez
você não goste de café ou prefere outro tipo de companhia. Mais uma vez penso
no lance da unanimidade.
Aquela oportunidade que eu tanto
esperei não saiu? Não foi a primeira nem será a última. Enquanto isso, tomo meu vinho
vendo um filme de arte ou conversando com uma amiga louca.
O restaurante que adoro está caro
demais para o meu orçamento? De duas uma: como salsicha o mês todo para poder pagar um jantar
espetacular ou aceito a frustração de não poder freqüentar um lugar caro.
Não deu para ver a peça teatral
que eu queria pois os convites estão esgotados? Compro ingresso para outra e se
um dia esta peça voltar a entrar em cartaz, dou pulos de alegria.
Minha melhor amiga não me
compreende? Arrumo outra.
A roupa da moda me deixa um
horror? Compro uma
que não está ou uso uma velhinha mesmo. Vejo pelo lado bom: economizo e talvez
até consiga pagar aquele restaurante bacana.
Não tenho com quem sair no final
de semana? Saio comigo mesmo ou fico em casa fazendo qualquer coisa que me agrada.
A vida acontece na rua ou em casa. A vida acontece onde a gente estiver se pusermos
um pouco de imaginação.
Estou namorando? Que delícia! A noite promete!
Estou sem namorar? Beleza! Posso ficar mais uma
semana sem me depilar.
Um amigo está se tornando
inconveniente demais? Não é preciso ser mal educado. Basta evitá-lo.
Ficam dizendo o tempo todo como
devemos viver? Beleza! Podemos escutar mas não devemos processar a informação. Depois vale a pena dar um bom
gelo no chato de plantão.
Me invejam? Que joia! Ser invejado é para
poucos!
Estou sem namorar? Saio com os amigos! Pode ser bem
mais divertido! Estou namorando?
Arrumo um jeito de deixar meu namorado completamente excitado num local
público. É uma experiência e tanto!
Aquela jaquetinha fashion não tem
no meu número? Perfeito! Economizo! A vendedora de repente descobriu um último
exemplar abandonado no estoque? Maravilha!
O restaurante que sempre vou está
lotado? Talvez seja
a oportunidade para conhecer um lugar novo.
Ganhei? Muito bom! Ganhar é sensacional.
Perdi? Paciência. Pelo menos aprendi
alguma coisa.
Em resumo: quem aprende a ligar o fodômetro percebe que nada é tão
urgente assim e que ganhando ou perdendo a vida continua sempre em frente. Deveríamos
nos cobrar menos e nos permitir mais. Deveríamos nos culpar menos e nos
divertir mais. Deveríamos lembrar e esperar menos e viver mais. Mais vale o
prazer de um provolone à milanesa que existe do que a projeção de um castelo na
Itália. Capisce?
***Silvia Marques - publicado no blog OBVIUS***